2024
O LUTO QUE OS GAÚCHOS ESTÃO VIVENDO PREPARA PARA O PRÓXIMO ESTÁGIO, A RECONSTRUÇÃO.
Eliana Camejo, CEO & Founder
O que estamos vivendo no Rio Grande do Sul é uma dor tão profunda que afeta a todos, independentemente de terem sido diretamente atingidos pelas enchentes que causaram esta tragédia. É um sentimento de luto universal, que mesmo aqueles que não perderam nada materialmente estão sentindo. Especialistas em comportamento apontam que, geralmente após o luto, surge a raiva. No entanto, para os gaúchos, ainda não é tempo de ter este sentimento, pois a magnitude da tragédia é tão grande que ainda estamos enfrentando seus efeitos.
Estas inundações, que atingiram mais de 90% do estado, trouxeram novamente a dolorosa lembrança de que algo precisa mudar em nosso relacionamento com a natureza. Enquanto as águas subiam e devastavam vidas, a percepção de que rios e chuvas são nossos inimigos surgiu em muitas pessoas, como uma resposta instintiva ao medo e à perda. No entanto, este é o momento de refletir e reconhecer que a natureza não é nossa adversária, mas um elemento vital que exige uma nova abordagem em nosso convívio e gestão.
A tristeza que permeia o estado é palpável. Estamos em luto, não apenas pelas perdas humanas e materiais, mas também por um modo de vida que parece cada vez mais vulnerável aos caprichos de um planeta que, por sua vez, sofre sob o peso de nossas próprias ações. Este luto é necessário, pois ele nos prepara para o próximo estágio crucial, a reconstrução.
Reconstruir não significa apenas reparar o que foi destruído. É uma oportunidade para reavaliar e reformular nossa relação com o mundo natural. Devemos entender que os rios, as chuvas e os ecossistemas são partes de um ciclo vital que sustenta a vida na terra. Eles não são nossos inimigos, mas componentes essenciais de nossa própria sobrevivência.
A mudança necessária é profunda e deve começar na mente de cada um de nós. Esse luto precisa servir para isso. Precisamos adotar uma abordagem mais integrada e sustentável, considerando a gestão ambiental como parte inerente do desenvolvimento urbano e rural. Isso envolve investir em infraestrutura verde, adotar práticas agrícolas que respeitem os ciclos naturais e garantir que nossas cidades cresçam em harmonia com o ambiente que as rodeia.
As lições são claras: devemos conviver, e não combater. As águas que hoje nos causam dor e perdas são as mesmas que nutrem nossos solos e nos fornecem recursos vitais. Ao mudarmos nossa perspectiva e tratarmos a natureza como parceira, não só mitigamos os efeitos de futuras catástrofes, mas também criamos um legado de resiliência e respeito pelo planeta que deixaremos para as próximas gerações.
Enfrentamos um desafio que é tanto de engenharia quanto de empatia.
As soluções técnicas para prevenir futuras inundações são indispensáveis, mas a verdadeira mudança virá com a transformação da nossa mentalidade. Ao abraçarmos a natureza como parte de quem somos, descobrimos que o verdadeiro inimigo é a indiferença com a qual, por vezes, tratamos o mundo ao nosso redor.
As águas já estāo recuando, mas a nossa memória e as lições aprendidas devem permanecer. Com empatia, resiliência e inovação, podemos construir uma sociedade que não apenas sobreviva, mas prospere em simbiose com o ambiente. A natureza não é nossa inimiga, mas nossa mais valiosa aliada na construção de um futuro sustentável.