2024
Ano eleitoral e a reputação das empresas
Eliana Camejo, CEO & Founder
Planos estratégicos preventivos, que abrangem a educação de todos os envolvidos, são essenciais. No entanto, atenção: uma única palavra mal colocada pode desencadear uma crise interna e externa.
Ao longo de minha trajetória profissional especializada em gestão de crises e riscos em comunicação, testemunhei corporações e líderes empresariais serem usados de diversas formas durante anos eleitorais. Muitas vezes, esses momentos apresentam desafios significativos, especialmente dependendo da maneira como a empresa é inserida no debate político. É imprescindível avaliar cuidadosamente se participar de discussões políticas é realmente válido para uma corporação que precisa se sustentar de governo em governo, mantendo sua neutralidade e integridade, mesmo que seus dirigentes possuam preferências políticas pessoais.
Lembro-me de um caso em que um grande empreendimento comercial foi visitado por dois candidatos políticos e, no meio da visita, começaram a promover um mini-ato público para fazer campanha, mesmo a legislação proibindo essa prática no Brasil. Essa situação expôs os lojistas a um ambiente desagregador e transformou um espaço de comércio em um palco de disputas eleitorais. Embora não possa citar nomes, essa experiência ilustra bem os riscos envolvidos quando empresas são usadas como ferramentas políticas. O impacto negativo na reputação da empresa, de seus dirigentes e no ambiente de trabalho pode ser significativo, prejudicando tanto os negócios quanto a moral dos colaboradores.
Em anos eleitorais, é fundamental que executivos e dirigentes empresariais adotem uma postura de neutralidade política para proteger suas organizações. Além disso, estabelecer uma política interna clara de neutralidade é um passo crucial. Isso inclui conscientizar os colaboradores de que todos têm suas preferências políticas, o que é totalmente legítimo, mas que dentro da empresa deve haver respeito entre diferentes opiniões e evitar conflitos no ambiente de trabalho
É essencial educar os funcionários sobre a importância de manter a isenção política. Desenvolver um plano de gestão de crises também é vital para lidar com situações em que a empresa possa ser involuntariamente envolvida em debates políticos.
Fora da empresa, o monitoramento contínuo da mídia e das redes sociais é crucial para detectar menções à empresa em contextos políticos, permitindo uma resposta rápida e eficaz. Em situações em que uma declaração pública seja necessária, reafirmar a neutralidade política e o foco no core business ajuda a manter a imagem da empresa intacta. Manter um diálogo transparente com clientes, fornecedores e outros stakeholders sobre a postura apolítica da empresa é fundamental.
Executivos e dirigentes empresariais devem liderar pelo exemplo, demonstrando neutralidade política em suas ações e comunicações. Evitar endossos políticos pessoais em plataformas públicas associadas à empresa é uma prática recomendada. Focar em iniciativas de responsabilidade social que transcendam a política, como projetos comunitários, sustentabilidade e filantropia, reforça a imagem positiva da empresa e demonstra compromisso com valores que vão além do cenário eleitoral.
Manter a isenção durante um ano eleitoral requer uma abordagem estratégica e proativa. A comunicação clara, o monitoramento contínuo e a liderança exemplar são fundamentais para proteger a reputação da empresa e garantir que ela não seja utilizada como ferramenta em debates políticos. Com essas ações, as corporações podem navegar pelo período eleitoral com integridade, mantendo o foco em seus objetivos de longo prazo e assegurando sua reputação no mercado.
A neutralidade não é apenas uma escolha, mas uma necessidade estratégica. Ao adotar essas práticas, vocês estarão não apenas protegendo suas corporações, mas também reforçando a confiança e o respeito de todos os seus stakeholders.